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Rozenblit
O Carnaval da Mocambo
Por Leonardo Dantas Silva* no Jornal da Besta Fubana
No Carnaval de 2013, o selo de discos Mocambo estaria comemorando sessenta anos do seu primeiro lançamento. Tratava-se do disco 78 rotações trazendo os frevos Come e Dorme (Nélson Ferreira) e Boneca (Aldemar Paiva), este último gravado na voz de Claudionor Germano.
A inauguração da Fábrica de Discos Rozenblit, dirigida pelos irmãos José, Luís, Isaac Rozenblit, acrescido de um quarto sócio, Kurt Sonderman, só aconteceria em 18 de dezembro daquele ano de 1954, muito embora o primeiro disco já teria sido gravado com um ano de antecedência.
A unidade industrial da nova fábrica veio a ser instalada no bairro dos Afogados, na Estrada dos Remédios nº 855, e sob Mocambo foram surgindo em discos 78 (rotações por minuto) os mais importantes sucessos do nosso carnaval e da música regional, chegando aquela fábrica a estabelecer escritórios no Rio de Janeiro (Avenida Rio Branco nº 14), São Paulo (Praça das Bandeira nº 40) e Porto Alegre (Rua do Riachuelo nº 1252).
O primeiro lançamento com o selo Mocambo que viera a surgir no carnaval de 1953, tinha o nº 15.000, matriz nº 500, trazendo na face A o frevo-de-rua Come e dorme, de Nelson Ferreira, e na face B, o frevo-canção Boneca, com letra de Aldemar Paiva e música de José Menezes.
Na interpretação o cantor Claudionor Germano, orquestra e coro sob a direção do próprio Nelson Ferreira, e a gravação nos estúdios do Rádio Club de Pernambuco, na Avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro, tornando-se grande sucesso do carnaval daquele ano e nos anos que se seguiram, sendo ainda hoje cantado nos salões e nas ruas.
Neste primeiro disco despontam, além do veterano Nelson Ferreira (1902-1976) responsável pela direção da orquestra e arranjos, os nomes de Aldemar Paiva (1925), que vem depois alcançar sucesso com Saudade, gravado por Alcides Gerardi, e Frevo de Saudade, este parceria com o próprio Nelson Ferreira, e o de José Menezes (1923), já famoso pelas gravações de Freio a óleo (RCA 80075-b/1950) e Baba de moça (Continental 16661-a/1953), gravados respectivamente pelas orquestras de Zacarias e de Severino Araújo, além do próprio Claudionor Germano que veio a se tornar o mais importante voz do frevo pernambucano.
José Rozenblit, um dos irmãos fundadores da Mocambo
Sob o selo Mocambo foram reeditados, em discos 78 rpm, importantes sucessos do carnaval brasileiro, como o frevo Vassourinhas, composto em 6 de janeiro de 1909 por Matias da Rocha e Joana Batista e gravado em junho de 1956, pela orquestra de Nelson Ferreira. Na ocasião são apresentadas, pela primeira vez em disco, as variações em sax-alto, compostas em 1941 por Felinho (Félix Lins de Albuquerque; 1895-1980), por ele próprio executadas na segunda parte, em dezesseis compassos sem interrupção, segundo a matriz nº R.696.
Ainda na mesma fábrica veio a ser prensado o disco, Frevo dos Vassourinhas nº 1, com orquestra e coro sob a direção de Clóvis Pereira, produção autônoma com o selo “Repertório” nº 9093, matriz R 285, gravado na sua versão cantada no auditório do Rádio Jornal do Commercio.
Mas o grande lançamento do selo Mocambo para o Carnaval Brasileiro só aconteceria com um frevo-de-bloco Evocação em 1957, disco em 78 rpm nº 15142 B, matriz R 791. Foi o grande sucesso de Nelson Ferreira, a quem coube a direção da orquestra e do coral do Bloco Carnavalesco Batutas de São José.
Foi o disco de maior vendagem, de todos os produzidos no Recife com o selo Mocambo, tendo sido cantado em todo o país. Em qualquer festa carnavalesca a marcha tornou-se obrigatória e, mesmo nos dias atuais, é comum encontrar-se grupos de foliões cantando animadamente em uma só voz:
Felinto…, Pedro Salgado,
Guilherme, Fenelon,
Cadê teus blocos famosos ?!
Blocos das Flores…, Andaluzas…,
Pirilampos…, Apôis-Fum…
dos carnavais saudosos ?!..”
Na alta madrugada,
O coro entoava,
do bloco a marcha-regresso,
que era o sucesso
dos tempos ideais
do velho Raul Moraes:
“Adeus, adeus, minha gente,
que já cantamos bastante”…
E o Recife adormecia,
ficava a sonhar
ao som da triste melodia…
Evocação tornou-se o grande sucesso daquele carnaval de 1957, não só no Rio de Janeiro, onde a Mocambo vendia centenas de milhares de cópias, mas em todo o Brasil aonde chegava a força do rádio e a televisão já se fazia presente, o que levou o seu autor, Nelson Ferreira, a sair do Recife a fim de se apresentar em programas especiais no Rio e São Paulo.
Não somente sucessos produzidos por compositores do Recife, mas também outros, de autores cariocas, que vieram a ser prensados na fábrica da Estrada dos Remédios e depois conquistar o Carnaval Brasileiro, a exemplo de Máscara Negra, marcha-rancho de Zé Kéti e Pereira de Matos, gravada por Dalva de Oliveira para o carnaval de 1967; Ôbá, com a turma do Bafo da Onça, em 1962 (nº 15403-b); Ó Malhador, Dircinha Batista, 1963 (nº 15478 b); Samba do Saci, Bloco do Bafo da Onça, 1963 (nº 15489 b); Último a saber, Dircinha Batista, 1963 (nº 15482 a); Cabeleira do Zezé, Jorge Goulart, 1964 (nº 15544 b); A índia vai ter neném, Dircinha Batista, 1964 (nº 15543).
Mas o grande sucesso de vendagem da Rozenblit, no período de 1953 a 1983, quando veio fechar as suas portas como gravadora, foi o long-play com as músicas de Lourenço da Fonseca Barbosa, campeão de todos os carnavais e que atende pelo apelido familiar de Capiba. No disco, feito para o carnaval de 1959, sob o título Capiba – 25 anos de frevo, gravado ao vivo nos estúdios da Rozenblit, com orquestra e coro sob a direção de Nelson Ferreira e tendo como intérprete Claudionor Germano, LP nº 40039, foram reeditados sucessos carnavalescos daquele compositor produzidos entre 1934 e 1959. Juntamente com o disco de Capiba foi produzido, para o mesmo carnaval, O que eu fiz e você gostou, LP nº 40040, com frevos-canções de Nelson Ferreira, alguns deles em parceria com Sebastião Lopes, Ziul Matos, Osvaldo Santiago e Aldemar Paiva, dentre outros, que, juntamente com o primeiro, veio consagrar o cantor Claudionor Germano como o mais importante intérprete da música carnavalesca pernambucana de todos os tempos. Também em 1959 a Rozenblit lançou Velhos Carnavais do Recife (LP 40 178), com orquestra e coro sob a direção de Nelson Ferreira. No ano seguinte, no rastro do sucesso dos dois primeiros, foram lançados Carnaval começa com C, de Capiba, e O que faltou e você pediu, de Nelson Ferreira, também gravados ao vivo nos estúdios da Rozenblit por Claudionor Germano e orquestra sob a direção do próprio Nelson Ferreira.
Lourenço Barbosa da Silva (Capiba) (1904-1997) e Nelson Ferreira (1902-1976), os maiores compositores de frevo do Brasil
Em 1973, foram relançados com nova apresentação três LPs de Capiba: 25 anos de frevo( LP 60044); Carnaval começa com C (LP 60106) e Frevo alegria da gente (LP 60060). De Nelson Ferreira vieram a ser lançados : Meio século de frevo-canção ( LP 60042); Meio século de frevo-de-rua (LP 60041); Meio século de frevo-de-bloco (LP 60040); Meio século de valsas (LP 60043), permanecendo em catálogo uma série de antologias do carnaval pernambucano, como os cinco volumes do Baile da Saudade, com Claudionor Germano e orquestra de Nelson Ferreira (LP 90005 e LP 90007) e Expedito Baracho e orquestra de Clóvis Pereira ( LP 90013 e LP 90016); Carnavalença – Carnaval dos Irmãos Valença, gravado por Expedito Baracho e orquestra de Nelson Ferreira (LP 90010) ; O Frevo Vivo de Levino Ferreira, gravado pela orquestra de José Menezes (LP 90008); Olinda Carnaval I e II, em 1979 e 1982 ( LP 20.000 e LP 20018); Grandes Frevos de Bloco ( LP 60030); Sua Exa. o frevo de rua, gravado pela Banda Municipal do Recife (LP 60059); Viva o Frevo, antes lançado com o título Frevo na gafieira (LP 40076/1959), tendo Martins do Pandeiro como intérprete, com lançamentos consecutivos em 1973 e 1979; João Santiago e os 50 anos do Bloco Batutas de São José, com orquestra e coro sob a direção do próprio João Santiago dos Reis em 1983 (LP 90021), Carnaval do Nordeste volumes I e II , gravados respectivamente pelas orquestras de Guedes Peixoto e Ademir Araújo, sob o patrocínio da Sudene (LP 90018 e LP 20021); Capiba – 86 anos, com Claudionor Germano e orquestra de Clóvis Pereira em 1990 (LP 804083).
Alguns desses lançamentos foram transformados, pela Polidisc em fitas cassetes e, mais recentemente, em compact-laser (1994), continuando o Capiba – 25 anos de frevo como o campeão de vendas ainda em nossos dias.
Trata-se da produção discográfica de maior tempo em catálogo de toda história da Música Popular Brasileira.
Mesmo depois de 1954, com o aparecimento de uma fábrica de discos no Recife, as gravadoras do Sul, RCA Victor, Copacabana, Odeon, Colúmbia, Philips, dentre outras, continuaram com os lançamentos das músicas inéditas feitas para o carnaval do Recife, em 78 rotações e long-plays, até 1982, quando o interesse ficou restrito à reedição de antigos sucessos do carnaval brasileiro e aos sambas-enredo da Liga de Escolas de Samba do Rio de Janeiro, contribuindo assim para o quase desaparecimento da marchinha carioca nos festejos carnavalescos.
Nesse mais de médio século de lançamentos discográficos do Carnaval Brasileiro, vale registrar o aparecimento do 78 R.P.M. com o frevo-canção de Luiz Bandeira, É de fazer chorar, gravado por Carmélia Alves, juntamente com outro sucesso de Capiba, Nem que chova canivete, lançado pela Copacabana no carnaval de 1957 sob o nº 5699, matriz 1725.
No âmbito dos long-plays, destaque especial para Carnaval com os Irmãos Valença, Colúmbia nº 40010, matriz XMB 394; Antologia do Frevo, com orquestra de José Menezes e Coro de Joab, Philips nº 6349.314, matriz 6349.314, produzido por Toinho Alves (Quinteto Violado) em 1976 com sucessivas regravações; Baile da Saudade, com orquestra de José Menezes e coro, Bandeirantes nº BR 73000, em 1980; Frevança – II Encontro Nacional do Frevo e do Maracatu, gravado ao vivo no Teatro do Parque (Recife) em 19 de setembro de 1980, lançado pela RGE nº 306.3134; os dois primeiros discos da série O Bom do Carnaval, com o cantor Claudionor Germano, pela RCA nº 1070317 e nº 1070411, em 1980 e 1982.
Frevos inéditos, em faixas independentes, no entanto, continuaram a figurar nos discos de Alceu Valença, Moraes Moreira, Quinteto Violado, Caetano Veloso, Nando Cordel, Carlos Fernando (Asas da América), Maria Betânia, Geraldo Azevedo, Chico Buarque de Holanda, Gal Costa, Beth Carvalho, Nara Leão, Banda de Pau e Cordas, Conjunto Dominó, dentre outros, não faltando também os frevos instrumentais interpretados por Sivuca, Hermeto Pascoal, Ed Maciel, Dominguinhos, Severino Araújo, Osvaldinho, Renato Borguetthi, Canhoto da Paraíba e o Conjunto de Cordas Dedilhadas, só para citar esses.
Leonardo Dantas é historiador pernambucano
Fonte: Besta Fubana
Os discos de Rozenblit para os campeões mundiais de 1958
Por Carolina Santos*
Entre as décadas de 1950 e 1980 Pernambuco podia se orgulhar de ser a sede de uma das mais importantes gravadoras nacionais. Fundada no começo dos anos 1950 por José Rozenblit, a gravadora que levava seu sobrenome também era uma fabrica de discos e teve filiais no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Em plena Copa de 1958, com a expectativa do Brasil ser campeão mundial, o futebol entrou definitivamente na história da Rozenblit. Naquela época, o complexo fonográfico contava com 190 funcionários – o que dava uma agilidade maior no lançamento dos discos. Mas nada como o que aconteceu naquela Copa.
Duas composições foram criadas para comemorar a vitória do Brasil, caso a seleção saísse vitoriosa no confronto contra a Suécia. Eram Escola de Feola (Luís Queiroga), interpretada pelo grupo os 3 Boêmios, e Brasil campeão do mundo (Nelson Ferreira e Aldemar Paiva), com a Orquestra e Coro Mocambo.
Rozenblit determinou que, se o Brasil ganhasse, todos os funcionários deveriam estar na fábrica meia hora após o jogo. Com todo mundo trabalhando, às 16h daquele mesmo 29 de junho de 1958 as duas composições já estavam tocando nas rádios do Recife.
Em uma boa jogada de marketing, a Rozenblit ainda ofereceu um mimo aos jogadores: prensou compactos personalizados com a foto de cada um dos heróis daquela seleção. Os disquinhos foram entregues aos jogadores e à comissão técnica em um almoço no Clube Português do Recife, na primeira parada da seleção no Brasil após a Europa.
* Carolina Santos é repórter da editoria Viver, do Diario de Pernambuco
Fonte: Blog do Diário
Um Selo dos Discos da Rozenblit
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